The Golden Dawn

“Por volta de 1880, em França, na Inglaterra e na Alemanha fundam-se sociedades iniciáticas e ordens herméticas que agrupam poderosas personalidades. A história dessa crise mística pós-romântica ainda não foi escrita. Merecia sê-lo. Ali se encontraria a origem de várias correntes de pensamento importantes e que, por sua vez, determinariam correntes políticas. Nas cartas de Arthur Machen a P.J. Toulet encontram-se duas curiosas passagens.

Em 1899: Quando escrevi Pã e O Pó Branco, não imaginava que acontecimentos tão estranhos alguma vez se dessem na vida real, ou até que jamais fossem susceptíveis de se produzir. Mas depois, e muito recentemente, verificaram-se na minha própria existência experiências que alteraram completamente o meu ponto de vista a esse respeito... De hoje em diante estou convencido de que nada é impossível sobre a Terra. Tenho apenas que acrescentar, acho eu, que nenhuma das experiências que fiz tem qualquer coisa a ver com aldrabices como o espiritualismo ou a teosofia. Mas creio que vivemos num mundo de grande mistério, de coisas insuspeitadas e absolutamente espantosas.


Em 1900: "Uma coisa que pode divertir o meu amigo: enviei O Grande Deus Pã a um adepto, um "ocultista" avançado, que encontrei subrosa! e ele escreveu: "O livro prova bem que, por meio do pensamento e da meditação, mais do que pela leitura, V. Ex.a tem atingido um certo grau de iniciação independente das ordens e das organizações." Quem é esse "adepto"? E quais são essas "experiências"? Noutra carta, após a passagem de Toulet por Londres Machen escreve: "O sr. Waite simpatizou muito consigo, pede-me que envie os seus cumprimentos."


Despertou a nossa atenção o nome desse íntimo de Machen que se dava com tão poucas pessoas. Waite foi um dos melhores historiadores de alquimia e um especialista da ordem de Rosa-Cruz. Tínhamos chegado àquele ponto das nossas investigações que nos esclareciam a respeito das curiosidades intelectuais de Machen, quando um dos nossos amigos nos fez uma série de revelações sobre a existência, em Inglaterra, no final do século XIX e princípio do XX, de uma sociedade iniciática: inspirada na Rosa-Cruz. Essa sociedade chamava-se a Golden Dawn. Era composta por alguns dos espíritos mais brilhantes de Inglaterra. Arthur Machen foi um dos adeptos.


A Golden Dawn, fundada em 1887, era procedente da Sociedade da Rosa-Cruz inglesa, criada vinte anos antes por Robert Wentworth Little, e que angariava partidários entre os mestres mações. Esta última sociedade compreendia 144 membros, entre os quais Bulwer-Lytton, autor de Os últimos Dias de Pompeia.

A Golden Dawn, mais reduzida ainda, tinha como finalidade a prática da magia cerimonial e a obtenção dos poderes e conhecimentos iniciáticos. Os seus chefes eram Woodman, Mathers e Wynn Wescott (o "iniciado" de que Machen falava a Toulet na sua carta do ano de 1900). Ela estava em contacto com sociedades similares alemãs de que mais tarde se encontrarão certos membros no famoso movimento de antroposofia do período pré-nazi. Viria a ter como mestre Aleister Crowley, um homem absolutamente extraordinário e com certeza um dos maiores espíritos do neopaganismo de que seguiremos a pista na Alemanha. Ele viria a publicar essas revelações nos números 2 e 3 da revista La Tour Saint Jacques, em 1956, sob o nome de Pierre Victor: L'ordre hermétique de la Golden Dawn.


S. L. Mathers, após a morte de Woodmann, e a retirada de Wescott, foi o grande mestre da Golden Dawn, que governou durante algum tempo de Paris, onde acabava de desposar a irmã de Henri Bergson. Mathers foi substituído na direcção da Golden Dawn pelo célebre poeta Yeats, que mais tarde viria a receber o Prémio Nobel. Yeats tomou o nome de Irnzão Diabo é Deus Inversus. Presidia às sessões de kilt escocês, mascarado de preto e com um punhal de ouro à cintura. Arthur Machen tomara o nome de Filus Aquartá. Havia uma mulher filiada na Golden Dawn: Florence Farr, directora de teatro e amiga íntima de Bernard Shaw. Ali se encontravam também os escritores Blackwood, Stoker, o autor de Drácula, e Sax Rohmer, assim como Peck, o astrónomo real da Escócia, o célebre engenheiro Allan Bennett e sár Gerald Kelly, presidente da Real Academia. Segundo parece, esses espíritos de élite foram marcados de forma indelével pela Golden Dawn. Como eles próprios confessaram, a visão que tinham do mundo foi alterada e as práticas às quais se entregaram não deixaram de lhes parecer eficazes e exaltantes.”


In "Despertar dos Mágicos" de Jacques Bergier & Louis Pauwels, pág. 141 e 142